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Tera-feira, 3 de junho de 2025
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Diploma intil? Por que tantas pessoas no conseguem trabalho em suas reas 554q37

Enquanto voc l esta reportagem, milhares de jovens pelo Brasil se preparam para o Enem (Exame Nacional do Ensino Mdio), prova que pode garantir a entrada deles na universidade. Os estudantes apostam na graduao no ensino superior para comear uma carreira. No entanto, muitos dos que pegam o diploma hoje no conseguem exercer sua profisso.

A culpa no s da crise econmica, que levou o desemprego a 11,8% no terceiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, mas do perfil dos recm-formados. Eles se concentram em poucos cursos e, quando buscam uma vaga, percebem que no h tanto espao para as mesmas funes.

Essa anlise foi feita pelo professor de economia da USP Hlio Zylberstajn, a partir de um cruzamento de dados do Censo do Ensino Superior e da Rais (Relao Anual de Informaes Sociais), do Ministrio do Trabalho.

Os nmeros de 2014, os mais recentes disponveis, mostram que 80% dos formandos estudavam em seis ramos: comrcio e istrao; formao de professor e cincias da educao; sade; direito; engenharia e computao. Ao olhar o que faziam os trabalhadores com ensino superior, o professor notou que os cargos no existiam na mesma proporo dos diplomas.

Um bom exemplo o setor de istrao que, em 2014, correspondia a 30% dos concluintes. Apesar da fatia expressiva, apenas 4,9% dos trabalhadores com graduao eram es de empresa. Outros 9,4% eram assistentes ou auxiliares istrativos, funo que nem sempre exige faculdade.

"As pessoas fazem esses cursos, mas evidentemente no h demanda para tantos advogados ou es. Elas acabam sendo so subutilizadas", diz Zylberstajn.

O professor tambm diz que o nmero total de graduados seria superior ao que o mercado brasileiro pode ar. De acordo com o Censo do Ensino Superior, em 2014, um milho de pessoas saram das salas de aula. Em 2004, eram 630 mil.

Mais gente no ensino superior
Mas o que levou esse nmero a crescer tanto?

A multiplicao das instituies privadas, ao lado da maior oferta das bolsas do Prouni e do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), facilitaram o o dos brasileiros graduao. De 2000 a 2014, a quantidade de instituies dessa natureza cresceu 15%. Outro fator, dizem os entrevistados, cultural: no pas, a beca sinnimo de status.

"A gente despreza o tcnico e supervaloriza o superior. uma tradio ibrica. Como por muito tempo foi uma coisa da elite, ou a ser considerado um meio de ascender socialmente", afirma Zylberstajn.

Para a professora Elisabete Adami, da istrao da PUC-SP, esse objetivo est ligado ideia de que o diploma basta para ganhar mais.

Ela diz que deu aulas em faculdades privadas de So Paulo e notava o desejo de seus alunos de melhorar de vida.

"Na sala, tinha trs que eram carteiros, muitos motoboys, o pessoal que trabalhava em lojas. O que eles queriam ali? Subir."

Rodolfo Garrido pensava nisso quando largou o ensino tcnico para entrar em uma faculdade privada. Ele ganhava R$ 2.600 como programador de produo em uma metalrgica. Como engenheiro, diz, seu salrio poderia subir para R$ 4.000.

Com a oportunidade do financiamento estudantil, decidiu apostar.

"J trabalhava na rea, ento s juntei os estudos. Para poder me graduar e ter um salrio melhor, poderia ganhar o dobro. Quando surgiu o incentivo do governo, comecei a pesquisar, porque antes era uma bolada."

Depois de trs semestres, teve que deixar as aulas porque ficou desempregado.

Segundo a diretora do Escritrio de Desenvolvimento de Carreiras da USP, Tania Casado, a crena de Rodolfo endossada por pesquisas que indicam salrios maiores para empregos de nvel superior. Mas faz uma ressalva: os estudos so feitos com quem j est trabalhando nesses cargos.

"Os dados so verdadeiros, s que preciso l-los corretamente. O fato de voc fazer uma faculdade no significa que vai para um vaga desse tipo."

Os motivos pelos quais Rodolfo escolheu engenharia tambm ajudam a explicar a concentrao dos estudantes em seis reas, que incluem sade, direito e computao. So profisses tradicionais, teoricamente mais estveis e bem pagas. Alm disso, so as mais oferecidas pelas instituies privadas, responsveis por 87,4% da educao superior no pas.

"As pessoas vo para faculdades pagas, que tm cursos de menor custo, como direito e istrao", diz o professor Hlio Zylberstajn.

Eles so mais baratos porque no usam outros equipamentos a no ser a sala de aula. Cursos de qumica, por exemplo, exigem laboratrios e substncias controladas.

Outro fator para decises to parecidas seria a pouca idade com que os brasileiros escolhem uma profisso.

" uma meninada de 17, 18 anos, que faz istrao porque o pai fez, ou porque acha legal ser CEO", diz a professora Elisabete Adami, da PUC-SP.

Aceitar o que tiver
Com tantos professores, es e advogados no mercado, muita gente tem dificuldade de conseguir um bom cargo na sua rea. s vezes o jeito aceitar vagas que pedem apenas ensino mdio.

Quando Evelyn Maranho se formou, em 2011, pensava que seria a de empresas. Cinco anos e muitas negativas depois, trabalha como assistente istrativa. Ela registra pedidos e lana horas-extras no sistema de uma empresa de manuteno predial.

"Achei que ia lidar com estatstica, relatrio, anlises, e, na verdade, fao o que uma secretria faria. Imaginava que estaria na tomada de decises."

H quem nem consiga exercer sua profisso.

Antes de cursar enfermagem, Vivian Oliveira trabalhava com eventos. Mesmo depois da formatura, continua organizando congressos, feiras e festas. Nesse meio tempo, diz, mandou incontveis currculos, mas no foi chamada para entrevistas. S foi contratada por uma clnica, onde ficou um ano.

"At h vagas, mas como no tenho muita experincia, eles no chamam."

Para a enfermeira, o fato de no ter estudado em uma universidade conceituada prejudicou sua trajetria "Se surgir uma posio no (hospital Albert) Einstein, vai entrar algum de faculdade renomada. Vi que meus colegas buscam fazer ps em lugares reconhecidos, porque colocam esse nome no currculo."

Faculdade renomada
A falta de experincia e a formao em instituies pouco prestigiadas so os principais empecilhos que os formandos enfrentam nos processos de seleo, diz Luciane Prazeres, coordenadora de Recursos Humanos da agncia de empregos Luandre.

Prazeres relata que muitos profissionais chegam no mercado sem ter feito estgio, porque precisavam trabalhar para pagar os estudos.

"A maioria so recepcionistas, operadores de call center que buscam o oposto do que esto fazendo. Mas, se ele no sai do mercado para fazer estgio, difcil conseguir uma oportunidade."

Segundo ela, comum que, ao abrir um posto, as empresas peam candidatos formados em determinada universidade.

Professora na PUC-SP, Elisabete Adami diz notar essa diferena ao ver que seus alunos saem empregados do curso.

"Pega estudantes da PUC, da FGV, do Insper, da USP...eles no esto sem trabalho. O pessoal de faculdades de segundo linha no encontra espao e vai ter que fazer uma ps para complementar a formao."

Para Adami, houve uma proliferao de escolas com menos qualidade, que entregariam profissionais deficientes.

"Esses conglomerados pagam, em mdia, R$ 17 a hora-aula. Que tipo de professor voc vai ter?"

No entanto, pondera, a estrutura ruim no sempre sinnimo de profissionais mal-preparados. S que, nesses ambientes, eles so mais frequentes do que em instituies de ponta.

"Sai gente boa, mas por conta prpria, porque so esforados."

Entre uma graduao ruim e uma boa formao tcnica, diz Adami, ela aposta na segunda.

"Essa mania de ser o primeiro da famlia de se formar uma iluso, mas forte no Brasil. algo secular. Na Frana e na Alemanha, voc no tem esse percentual de jovens na universidade."

Ensino tcnico
O ensino tcnico citado pelos entrevistados como uma opo interessante profissionalmente.

Hlio Zylberstajn, da USP, diz que o ensino negligenciado e faz falta para o pas. O professor sugere que disciplinas ligadas ao ensino tcnico sejam includas na grade curricular do ensino mdio, e no em institutos especficos, como acontece hoje.

"Estamos carentes de tcnicos. No ensino mdio, deveramos formar mo de obra em cooperao com as empresas."

Esse tipo de formao uma possibilidade que precisa ser analisada antes da deciso definitiva pelo ensino superior, diz Tania Casado, do Escritrio de Desenvolvimento de Carreiras da USP.

" preciso olhar para o lado e ver que h muitas posies no preenchidas, porque as pessoas no tm estudo especfico. Os jovens precisam saber disso ao se lanarem em um curso."

Se a escolha for pelo ensino superior, no entanto, Casado diz que o estudante no deve conhecer apenas a profisso, mas as ocupaes que ela abrange. Um graduado em Medicina, por exemplo, no precisa ser um mdico e pode tornar-se um gestor de plano de sade.

Alm de analisar o mercado, aconselha a diretora, o candidato deve olhar para si e escolher algo com o que se identifique. Se depois quiser mudar de rea, a transio no precisa ser dolorosa. Nem sempre uma nova faculdade necessria, afirma. s vezes uma especializao ou cursos livres so suficientes.

"Carreira isto: olhar o entorno e se olhar, o tempo inteiro. E saber que medida que voc vai evoluindo, pode haver outros interesses, o que bom. Mas preciso se preparar para esses interesses, o que no necessariamente a por uma graduao."
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