Mesmo durante o perodo de entressafra, exportadores brasileiros de caf continuam acumulando prejuzos devido a gargalos logsticos nos principais portos do pas. A situao afeta diretamente o escoamento da produo nacional e gera impacto nas receitas cambiais do setor.
De acordo com o Conselho dos Exportadores de Caf do Brasil (Cecaf), em maro, 637.767 sacas de caf deixaram de ser embarcadas. O volume equivale a 1.932 contineres e resultou em um prejuzo de R$ 8,9 milhes s empresas exportadoras, em razo de custos extras com armazenagem, detentions, pr-stacking e antecipao de gates.
Desde que o Cecaf iniciou o monitoramento dos impactos logsticos em junho de 2024, as empresas associadas j reportaram perdas de R$ 66,5 milhes causadas por limitaes operacionais nos portos de escoamento.
O no embarque desse volume de caf tambm fez com que o pas deixasse de receber US$ 262,8 milhes, ou R$ 1,510 bilho, como receita cambial em suas transaes comerciais no ms ado, considerando o preo mdio Free on Board (FOB) de exportao de US$ 336,33 por saca (caf verde) e um dlar de R$ 5,7462 na mdia de maro.
“O Brasil o pas que mais rea o preo FOB da exportao ao produtor e, ao deixarmos de embarcar nossos cafs devido no concretizao dos embarques, temos o ree menor a nossos cafeicultores, que trabalham arduamente para entregar produtos de qualidade e sustentveis”, explica o diretor tcnico do Cecaf, Eduardo Heron.
Segundo ele, embora o governo federal tenha anunciado investimentos em infraestrutura, a efetivao das obras lenta diante da urgncia do setor. “As autoridades pblicas vm fazendo anncios importantes sobre investimentos em infraestrutura, que contribuiro para mitigar os gargalos logsticos, mas necessrio dar 'urgncia e celeridade' aos processos”, afirma.
Heron destaca, ainda, que “os investimentos anunciados so muito importantes, como o leilo do TECON10 em Santos, a concesso do canal de entrada martima ao porto, o tnel de ligao Santos-Guaruj e a terceira via de descida da Rodovia Anchieta para a baixada santista, porm a entrega demorar cerca de cinco anos e o segmento exportador nacional demanda de solues urgentes, pois os prejuzos so gritantes".
Para ele, os investimentos no acompanham o avano do agronegcio. "Todas as cargas que dependem de contineres enfrentam esses problemas que relatamos no caf e a tendncia que o cenrio se agrave, pois o agronegcio no para de evoluir e sero necessrios anos para chegarmos a condies adequadas na logstica porturia. Basta lembrar que estamos na entressafra, com oferta menor, e, ainda assim, mais de 600 mil sacas de caf esto paradas nos ptios, onerando nossos exportadores, por no terem condies de embarque devido falta de condies modernas e contemporneas nos portos", avalia.
Heron afirma que o Cecaf continuar promovendo articulaes com os setores pblico e privado. “O Cecaf seguir buscando o dilogo com todos os atores, dos setores pblico e privado, envolvidos com a matria, levando dados e informaes reais sobre o cenrio logstico-porturio para que solues de impacto imediato possam ser encontradas”.
Ele tambm destaca o empenho dos terminais e a importncia de dados tcnicos para o avano das discusses com as autoridades. “ importante destacar que os terminais porturios seguem empenhando esforos para atender aos exportadores de caf, bem como a contumaz busca pelo dilogo dos agentes privados do comrcio exterior e das lideranas pblicas, como autoridades porturias, Ministrio de Portos e Aeroportos e da (Agncia Nacional de Transportes Aquavirios) Antaq, que demonstram crescente interesse em informaes consistentes, como os dados apurados pelo Cecaf, para entenderem os desafios e buscarem solues”, conclui.
O boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecaf, revela que 55% dos navios — 179 de um total de 325 embarcaes — sofreram atrasos ou alteraes de escala nos portos brasileiros em maro.
No Porto de Santos, responsvel por 78,5% dos embarques de caf no primeiro trimestre de 2025, o ndice de atraso ou alterao de escalas foi de 63%. Ao todo, 113 dos 179 porta-contineres enfrentaram problemas logsticos. O maior tempo de espera no local foi de 42 dias.
“Conforme dados de relatrios de mercado que monitoramos, dentro desse universo dos dados totais referentes a Santos, alm dos atrasos, soubemos que ocorreram 19 omisses de escalas e outras 13 omisses por cancelamento da viagem em embarcaes de longo curso, em maro, por conta das limitaes de infraestrutura porturia, que elevam o tempo de espera dos navios. Isso nos causa grande preocupao porque potencializa a lotao nos ptios, o que desencadeia efeito em toda a cadeia produtiva”, comenta Heron.
Em Santos, apenas 12% dos embarques tiveram gate aberto por mais de quatro dias. Outros 55% tiveram prazos entre trs e quatro dias, e 33% menos de dois dias.
O complexo porturio do Rio de Janeiro, segundo maior ponto de escoamento do caf brasileiro, registrou 59% de atrasos em maro. Dos 73 navios previstos, 43 tiveram escalas alteradas. O intervalo mais longo foi de 15 dias entre o primeiro e o ltimo deadline.
Nos portos fluminenses, 18% dos embarques contaram com mais de quatro dias de gate aberto; 36% entre trs e quatro dias; e 46% por menos de dois dias.