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Depresso em idosos: por que doena ainda difcil de ser diagnosticada 5w2328

Agncia da Notcia com BBC News Brasil

23/01/2024 - 09:09

Depress

Foto: Getty Images

"Perdi o amor da minha vida, com quem estava h 45 anos."

A aposentada paranaense Maria Helena Barroso, de 64 anos, relembra assim a morte de seu marido, em 2017, por causa de umcncer.

Ela conta que abdicou de praticamente tudo para se dedicar integralmente por 14 meses ao companheiro, que tratava um tumor de pncreas em estgio avanado.

"Para dar todo meu apoio, parei de frequentar minhas aulas de pilates e de hidroginstica (que fazia com ele), de visitar amigas e ir igreja", diz.

No fim do tratamento, a famlia optou pelos cuidados paliativos em casa, e o marido de Maria Helena partiu enquanto eles estavam de mos dadas uma ltima vez.

Depois da morte dele, a aposentada foi diagnosticada com depresso e chegou a perder muito peso.

"De um dia para o outro, ei a morar sozinha. Sentia uma tristeza muito grande", lembra ela.

"Ao mesmo tempo, ei a receber ligaes e mensagens de WhatsApp com tentativas de golpe depois que ei a receber a aposentadoria dele."

Mudanas na rotina tambm contriburam para que Maria Helena tivesse crises de ansiedade. Ela conta que sentia uma angstia muito grande ao ter que assumir tarefas do dia-a-dia que antes cabiam ao seu marido, como tirar dinheiro no caixa eletrnico.

Os filhos insistiram que ela buscasse ajuda mdica, mas Maria Helena diz que acreditava, na poca, que conseguiria se curar com ajuda de sua f.

"Eu tinha tentado intensificar minhas oraes e recorrer ao exerccio fsico, que eu tinha retomado", diz. "Foram uns seis meses at eu aceitar que precisava de ajuda."

comum queidososcomdepressodemorem a perceber e a aceitar que esto com a doena, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Alm disso, familiares costumam no identificar os sinais da depresso em pessoas da terceira idade por acharem que mudanas de comportamento so naturais nessa fase da vida, diz Natan Chehter, mdico do Hospital Estadual Mrio Covas e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

"Depresso tem um estigma, e, no idoso, muito mais", diz Chehter.

"Se a pessoa nunca teve alterao de humor, nunca foi deprimida, ela pode, eventualmente, achar que no tem nada", afirma.

O especialista refora que, se um idoso a a se comportar de uma forma diferente do habitual, isso precisa ser devidamente investigado: "No pode atribuir tudo idade".

Fatores desencadeantes

A depresso um transtorno biolgico no qual a pessoa perde o interesse ou prazer em relao a algo que tinha antes, afetando sua vida pessoal, profissional e social.

Segundo os ltimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica)publicados no Observatrio Nacional da Famlia, do Governo Federal, 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais de idade referiram ter recebido o diagnstico de depresso.

Os idosos com 60 a 64 anos representavam a faixa etria proporcionalmente mais afetada, com 13,2%. Os de 65 a 74 anos apareciam com 11,8%. E, por ltimo, os de 75 ou mais, 10,2%.

Essa doena tem caractersticas prprias entre idosos, explica Rita Reis Ferreira, psiquiatra do Programa Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas de So Paulo.

Embora vrios fatores possam desencadear a depresso, o prprio envelhecimento contribui para isso, diz Ferreira.

A mdica explica que doenas cerebrovasculares, provocadas por diabetes, hipertenso e outras, podem atingir os vasos do crebro e danificar o funcionamento do rgo, ocasionando uma depresso vascular.

Nos jovens, fatores biolgicos como hipotiroidismo e at cncer podem gerar o problema. O que difere a condio entre essas faixas etrias, segundo os especialistas, realmente so os problemas vasculares nos idosos.

" uma depresso em geral muito grave", explica a mdica.

"Quando fazemos ressonncia magntica, encontramos leses vasculares. Com o ar do tempo, nosso sistema vascular vai ficando pior. O sistema vascular de um idoso diferente de um jovem."

Alm disso, doenas clnicas como hipertenso, tabagismo e a prpria falta de atividade fsica minam a sade do indivduo ao longo dos anos, gerando consequncias no futuro.

"O que vai acontecer que os problemas vo surgir tardiamente. Todas as doenas existem clinicamente, mas as suas repercusses surgem ao longo do tempo ", alerta Ferreira.

Asolido frequentetambm contribui para um quadro depressivo, segundo especialistas. Isso foi mostrado inclusive em pesquisa publicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2023.

O estudoSolido e sua associao com indicadores sociodemogrficos e de sade em adultos e idosos brasileiros: ELSI-Brasilapontou que a depresso quatro vezes mais comum entre idosos que relatam se sentirem sempre sozinhos.

J os indivduos que moravam sozinhos apresentaram ndices mais altos de solido do que os que moravam com uma ou mais pessoas. Os dados revelam ainda que os nveis de solido em mulheres idosas so mais altos que os dos homens.

O geriatra Leonardo Bernal, professor da Faculdade de Medicina do ABC, aponta ainda questes socioeconmicas para o surgimento da depresso nessa fase da vida.

Idosos em reas perifricas e com menor poder aquisitivo tendem a sofrer mais com a doena.

"Se tem mais condies, logo, tem melhor o a um servio de sade. Um convnio carssimo para um idoso", diz Bernal.

"Quando o idoso est ativo economicamente, consegue uma consulta como gostaria. Mas, quando se aposenta, o plano consome quase todo o rendimento dele."

Alm disso, especialistas apontam que outros fatores psicossociais favorecem o surgimento da condio, como mudanas bruscas na rotina.

"Na verdade, envelhecer conviver com perdas. Quando voc se aposenta, por exemplo, voc tambm perde seu papel social", afirma Ferreira.

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'No sentia vontade de fazer nada'

Durante quase 30 anos, a aposentada paulista Jair Marques, de 84 anos, trabalhou como tcnica de laboratrio em uma universidade em So Paulo.

Quando se aposentou e comeou a ficar em casa com mais frequncia, ela notou que o sentimento de tristeza no ava.

Mesmo suspeitando que poderia ser depresso, ela destaca que anos atrs no se falava na doena como agora, o que dificultava o o informao.

"Meu diagnstico de depresso foi depois da minha aposentadoria. Eu sempre fui um pouquinho depressiva, mas, no comeo, nem sabia o que era depresso", diz.

Jair afirma ainda que, como amava o que fazia, sair do trabalho foi um dos gatilhos para a mudana no humor.

"Depois que me aposentei, fiquei muito mal e ei uns anos assim, procurando alguma coisa para melhorar", afirma.

Para tentar entender o que sentia, a aposentada recorreu ao Hospital das Clnicas, em So Paulo.

Comeou um tratamento com uma psicloga, mas precisou ser encaminhada a um psiquiatra. Foi ento que recebeu o diagnstico de depresso.

Segundo a aposentada, ela sentia muita angstia e tinha pensamentos negativos com frequncia.

"No sentia vontade de fazer nada. tanta coisa que a gente sente que no d nem para explicar o que era pior."

Ela no relutou em se tratar e seguiu a linha teraputica com medicaes e atividades de arte.

"J estava com quase 60 anos, e o tratamento foi um alvio muito grande. No queria continuar vivendo daquela forma", conta.[Jair em selfie]CRDITO,ARQUIVO PESSOALLegenda da foto,Jair conta que teve diagnstico de depresso aps se aposentar

Na poca, ela ainda teve que lidar com o falecimento do pai e, alguns anos depois, com a morte da me, que partiu aos 94 anos e tinha sintomas de demncia.

"Graas a Deus, tive condies de acompanhar (minha me). Ns morvamos juntas, e essa foi a parte principal. Se eu no estivesse bem, no conseguiria", afirma.

Depois desse episdio, Jair seguiu com o tratamento e, hoje, j so quase 24 anos de acompanhamento e medicaes.

Ela diz ter sido importante ter recebido um diagnstico precoce e defende que preciso acabar com o preconceito em relao depresso.

"Dou a maior fora para as pessoas da terceira idade que esto com problema, nem todas as pessoas aceitam, mas hoje em dia j est bem melhor falar sobre depresso."

Sintomas podem ser confundidos

O diagnstico da depresso em idosos pode ser difcil devido semelhana com outras doenas mentais, apontam especialistas.

Diferentemente do quadro em um jovem, em que os sintomas ficam em geral mais evidentes, em pessoas mais velhas, a condio pode ser "mascarada".

"O paciente pode estar com alguma alterao cognitiva e os sintomas podem ser confundidos com depresso e vice-versa", diz o geriatra Leonardo Bernal.

"No raro um quadro depressivo ser confundido com demncia ou Alzheimer."

Por isso, o mdico defende que, quando h uma alterao de comportamento prolongada, necessrio que o prprio idoso ou familiares busquem uma ajuda mdica.

Essas alteraes de humor podem vir acompanhadas de sintomas como dores frequentes, sonolncia em excesso, insnia, falta de apetite, fadiga, tristeza profunda e apatia.

A dificuldade em obter o diagnstico tambm ocorre por negligncia dos prprios familiares, segundo os mdicos.

"Parece que no idoso tudo normal. Ele tem uma dor, atribuda idade. O paciente est esquecido, a idade. Sempre tem um problema e uma justificativa. O maior estigma ainda relacionado idade", destaca Bernal.

Flavia Maria de Paula Soares, psicloga e professora da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUR), diz que outro problema comum o idoso ser tratado como criana.

" muito comum associarem o pblico da terceira idade a pessoas ranzinzas, birrentos e at trat-los de forma infantilizada", diz.

" importante ter uma escuta dedicada, mas sem infantilizao." importante incentivar a participao de idosos em atividades sociais, grupos de apoio ou clubes para combater a solido", dizem especialistas

Ao procurar ajuda necessrio que o idoso receba orientao de um geriatra ou psiquiatra.

A psicoterapia tambm faz parte do tratamento e deve ser levada em considerao durante o acompanhamento mdico.

"Alm disso, importante ter esse entorno que o escute, que o acolha. Que fale para ele e no dele", ressalta Soares, que tambm autora do livroEnvelhescncia: o trabalho psquico na velhice(Editora Appris, 2021).

Mudanas no estilo de vida tambm ajudam que uma pessoa que sofre de depresso recupere o prazer em sua rotina, segundo especialistas.

Durante o processo, importante que o idoso no receba julgamentos ou questionamentos, mas sim, uma ajuda de pessoas prximas.

importante incentivar a participao deles em atividades sociais, grupos de apoio ou clubes para combater a solido.

H unidades bsicas de sade que promovem atividades de lazer em todo pas. Tambm existem programas de lazer nas unidades do Servio Social do Comrcio (Sesc), instituio que promove servios de bem-estar e qualidade de vida populao.

Apoio dos filhos foi fundamental[Maria Helena e a famlia]CRDITO,ARQUIVO PESSOALLegenda da foto,Maria Helena teve o apoio da famlia para buscar um especialista e investigar por que o sentimento de tristeza profunda no ava

Mesmo relutante, Maria Helena teve o apoio da famlia para buscar um especialista e investigar por que o sentimento de tristeza profunda no ava.

"Tenho dois filhos que, apesar de morarem em outro Estado, sempre estiveram presentes, me ligando todos os dias por vdeo", conta ela.

"Eles percebiam que eu no melhorava daquele estado de tristeza e comearam a colocar na minha cabea que aquilo no era normal e que eu precisava procurar ajuda mdica."

Seu filho, Marcus Barroso, de 37 anos, lembra que essa fase foi bem complicada, ainda mais durante o processo de luto em que todos estavam vivendo.

"Foi muito duro ver a minha me to triste. Ela sempre foi muito ativa, mas em um ano, ela emagreceu mais de 10 kg, sendo que j era magra", diz Marcus.

"Eu e minha irm moramos muito longe, ento a preocupao era ainda maior, porque no podamos estar perto."

Depois de muita insistncia dos filhos, a aposentada procurou um geriatra que, na sequncia, a encaminhou para um psiquiatra.

O tratamento comeou a ser feito com medicao e tambm com recomendao de atividades de lazer.

De incio, diz Maria Helena, foi difcil se acertar com o remdio, j que alguns medicamentos davam efeitos colaterais como sonolncia e outros no mostravam muitos efeitos.

Depois de quase trs meses, ela conta que comeou a sentir uma melhora visvel.

"Fiz algumas sesses de terapia com uma psicloga. Ganhei o peso que tinha perdido e voltei minha rotina de exerccios e de encontrar as amigas", diz.

"Tambm entrei para um grupo de orao e comecei um trabalho voluntrio com pacientes de cncer de um hospital pblico da minha cidade", diz.

A aposentada segue em tratamento e diz que est se sentindo bem melhor.

Pela primeira vez desde o diagnstico do cncer do seu marido, ela vai fazer uma festa para comemorar seu aniversrio, como fazia no ado.'Procurar ajuda especializada extremamente importante', diz

Aos poucos, Maria Helena est retomando os hbitos que a deixavam feliz, e refora a importncia de no tratar a depresso como tabu.

"Por mais que a gente tenha aquela resistncia de achar que a sada para a depresso est na f, na orao, depresso uma doena como qualquer outra", diz.

"Precisa de um tratamento em vrias frentes, e o remdio uma delas. Procurar ajuda especializada extremamente importante."
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