“Somos indgenas Warao e viemos de um pas em crise. Escolhemos o Brasil porque aqui tem de tudo, mas continuamos a sofrer. Onde vamos chegar com esse sofrimento" />
Representantes do Ministrio Pblico de Mato Grosso, Ministrio Pblico do Trabalho, Secretaria de Estado de Assistncia Social e Cidadania (Setasc), Secretaria Municipal de Assistncia Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficincia (SADHPD), Centro de Referncia de Assistncia Social (Cras) Getlio Vargas e Fundao Nacional dos Povos Indgenas (Funai) estiveram no local na manh desta sexta-feira para verificar as condies de moradia dos indgenas venezuelanos e ouvi-los.
“Nosso objetivo aqui, hoje, escut-los. Viemos para ouvir o que necessitam”, afirmou o padre e antroplogo Aloir Pacini, que organizou a visita ao bairro So Jos I, com a finalidade de escutar os indgenas a respeito das carncias e necessidades mais prementes. “Ns, do Ministrio Pblico, estamos preocupados com essa situao e tentando ajudar, sobretudo por envolver muitas crianas”, acrescentou o procurador de Justia titular da Especializada em Defesa da Criana e do Adolescente, Paulo Roberto Jorge do Prado.
Para o promotor de Justia Henrique Schneider Neto, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos, Diversidade e Segurana Alimentar do MPMT, a ao representou uma poltica humanitria de acolhimento, um olhar inclusivo. “O primeiro o j foi dado e isso o mais importante. No apenas uma reunio, um caminho que estamos construindo”, avaliou.
Conforme informado por Hernaida Estrella, atualmente existem 35 famlias assentadas no local, totalizando 151 indgenas Warao, dos quais 70 so crianas. Eles ocupam uma rea particular cedida por um ano, com duas casas de alvenaria e diversos barraces de madeira e lona. Trinta famlias esto cadastradas no programa de transferncia de renda Bolsa Famlia, nove esto tm trabalhadores com carteira assinada e 13 recebem o benefcio do Programa SER Famlia.
So muitas as carncias. Faltam comida, gua potvel, refrigerador para armazenar alimentos, banheiro, escola para as crianas, entre outras coisas. “Viemos sofridos e com fome, o que amos da Venezuela at Cuiab foi triste, tivemos muitas perdas O que queremos agora um lugar para viver coletivamente aqui, no em outra cidade, onde possamos plantar, seguir com nossos costumes e trabalhar como artesos. Queremos sair das ruas com as crianas. Somos humanos como vocs”, manifestou Hernaida Estrella.
Clamando por ajuda, outras representantes dos indgenas relataram dificuldades de comunicao das crianas nas escolas brasileiras (barreira lingustica) e a preocupao com o incio do perodo chuvoso, uma vez que as barracas onde vivem no possuem proteo. Por fim, agradeceram a presena do Poder Pblico e disseram estar esperanosos em melhorar de vida.
Estratgias de atuao- Assumindo a coordenao dos trabalhos, o procurador de Justia Paulo Prado dividiu as estratgias de atuao em trs eixos: moradia, educao e segurana alimentar. Ficou acertado que: o MPMT encaminhar ofcio s prefeituras de Cuiab e Vrzea Grande e ao Governo do Estado para verificar a possibilidade de doao de um terreno para os Warao, com espao para uma escola exclusiva; a Setasc ver a possibilidade de entregar 50 cestas bsicas para as famlias mensalmente; o Cras Getlio Vargas continuar fazendo o cadastramento nos programas de governo e tambm ver como entregar cestas bsicas individualizadas; e que o Cras e o padre Aloir continuaro as tratativas com empresas para oferecer emprego formal aos indgenas.
Tambm participou da escuta social a promotora de Justia Ana Luza Barbosa da Cunha, da 14 Promotoria Cvel de Infncia e Juventude de Cuiab. Entre as deliberaes, ficou definido que, na prxima segunda-feira (9), os representantes das instituies vo se reunir presencialmente na sede das Promotorias da Infncia e Juventude da Capital, s 15h, para avaliar o resultado da ao.
Sade- No decorrer da escuta, os indgenas informaram que esto recebendo tratamento mdico no local e que as crianas esto com o carto de vacinao atualizado. Esse cenrio resultado da atuao do MPMT, que recentemente ajuizou uma medida com o objetivo de verificar, prioritariamente, o atendimento das equipes de sade s crianas e adolescentes da etnia Warao.
Em uma audincia realizada no ms de setembro com a juza Gleide Bispo Santos, a promotora de Justia Daniele Crema da Rocha de Souza e a secretria-Adjunta de Ateno Primria da Secretaria Municipal de Sade, Catarina Clia de Arajo Amorim, ficou acertado que a Unidade de Sade da Famlia (USF) do bairro Parque Ohara ficar responsvel por dar continuidade ao atendimento mdico necessrio aos indgenas Warao. Eles faro a assistncia mdica dentro da comunidade Warao ao menos uma vez por ms.