O sol comea a apontar no horizonte e os jovens da agrovila de Santo Antnio da Beleza, do municpio de Vila Rica (1.280 km de Cuiab), j se colocam de p. que, antes da escola, eles tm as obrigaes da vida no campo. Depois, ainda cedo, um nibus escolar os leva at a comunidade.
O caminho no fcil. A estrada de cho e o nibus ainda enfrenta pontes de madeira. Quando chega na escola, a estrutura tambm no das melhores. Ainda assim, a comunidade valoriza a educao ali recebida. Lutou inclusive para manter a escola em p, j que a escola rural corria o risco de ser fechada.
Apesar de toda a precariedade, boa parte da rotina – e portanto da vida – desses alunos j ficou eternizada. Um grupo de 16 deles, orientado pelo professor de biologia Felipe Tamuxi, deu vida ao documentrio “Escola e Comunidade: Vida e Futuro”.
Sem estrutura, os celulares substituram as inovadoras cmeras filmadoras. Na tela, o cotidiano dos estudantes, a vida escolar e a da comunidade foi fielmente retratada. E a vida simples de quem vive no campo teve sua recompensa. O grupo foi premiado na 4 edio do Desafio Criativos da Escola, no final do ano ado.
O LIVRE conta essa histria em homenagem ao Dia do Estudante (11 de agosto).
Dificuldades
A rotina na escola no fcil. Segundo o professor revelou ao LIVRE, alm dos problemas estruturais a escola precisa lidar com situaes externas. O cansao dos alunos, em razo da vida no campo e da dificuldade de chegar agrovila uma delas. Outra situao a falta de professores qualificados.
“Quem tem formao no quer trabalhar no campo”, explicou Felipe. Segundo ele, os profissionais que escolheram a Agrovila moram em Vila Rica. Por vezes, eles no tm como voltar para casa, e precisam ser abrigados na comunidade.
Alis, reconhecer as duas construes do local como escola rural foi uma luta grande da comunidade. Isso porque foram os prprios moradores que construram o espao.
No entanto, aqueles que escolheram a zona rural se dedicam ainda mais para atender s necessidades dos alunos, segundo Felipe.
Dia a dia em pauta
A ideia do documentrio surgiu para superar uma dificuldade interna dos alunos. Eles se sentiam menos capazes do que os alunos da cidade, segundo Felipe. Foi ento que os professores elaboraram o projeto para intervir nessa realidade e superar essas dificuldades.
A equipe se envolveu inteiramente no projeto e pesquisou tcnicas de audiovisual, como elaborao de roteiro e tcnicas de iluminao. A sala anexa escola foi o espao escolhido para colocar o projeto em prtica.
“Usamos o audiovisual em defesa da escola, porque no queramos que ela fechasse. Ela sofria ameaa de fechamento todo ano. E pensamos no vdeo pelo impacto que um documentrio pode trazer”, revelou o professor.
Os alunos no estavam confiantes, mas, aos poucos, o projeto ganhou forma. Os prprios estudantes pensaram quais aspectos deveriam ser mostrados. Sem grandes equipamentos, tudo foi gravado no celular. Foi tambm no telefone onde o produto final foi editado.
Premiao
Depois de pronto, o documentrio teve um dia de estreia, com um seminrio para que a comunidade assistisse ao produto dos alunos.
“As pessoas da comunidade se sentiram valorizadas, porque a vida delas no muito fcil. Naquele momento elas tiveram a oportunidade de serem as protagonistas de um documentrio. Todo mundo se emocionou bastante”, lembrou Felipe.
O vdeo tambm foi apresentado no campus de Confresa, do Instituto Federal de Mato Grosso. L, os alunos tambm conquistaram o pblico, e assistiram a outras apresentaes dos alunos locais. “Eles se sentiram iguais, apesar de terem vindo de onde vieram. Aquela insegurana que sentiram no comeo, acabou ali”.
Ento, por que no inscrev-lo em uma premiao? O professor Felipe soube da oportunidade pelo Facebook. Ele inscreveu a turma sem comunic-los, e esperou o aceite para revelar. A aprovao foi um estmulo a mais para os estudantes.
Poucos dias depois, a coordenao do prmio entrou em contato com Felipe. Os estudantes da zona rural de Vila Rica haviam vencido o desafio nacional. Mas ele s poderia revelar mais prximo ao evento, quando houvesse a divulgao oficial.
Felipe aproveitou um evento da escola, no municpio de Vila Rica, para, com a diretora, anunciar a notcia. Aquela foi a primeira vez que uma escola do Mato Grosso concorreu, assim como a primeira vez que foi premiada.
“Foi uma experincia de vida maravilhosa. Jamais imaginaria que nosso projeto ganharia uma premiao nacional. Foi uma emoo enorme. Aquele pensamento que tnhamos, que no renderia em nada, foi embora”, lembrou a estudante Antonielle Souza, de 18 anos.
Trs dos alunos acompanharam o professor para Fortaleza (CE), onde receberam o prmio. L tambm conheceram outros estudantes premiados e se iraram com os projetos apresentados. Da mesma forma, emocionaram a todos com o documentrio mato-grossense.
Conforme o professor, depois da premiao o clima na escola mudou. Os alunos deixaram a baixa autoestima de lado e aram a se empenhar nas atividades. Hoje, Felipe no atua mais na escola, assim como Antonielle, que j se formou. No entanto, eles acreditam que a “boa semente” foi plantada.
O documentrio pode ser conferido aqui: