O proprietrio da maior trading brasileira de gros disse Reuters que est negociando com o investidor canadense Stan Bharti parceria para desenvolvimento da maior mina de potssio da Amrica Latina, em um esforo para reduzir a dependncia de agricultores brasileiros das dispendiosas importaes de fertilizantes.
Blairo Maggi, da Amaggi, conglomerado do agronegcio que atua no cultivo, comercializao e logstica de gros, disse que o grupo deseja fazer parceria com a Potssio do Brasil, de Bharti, oferecendo o transporte por rio de uma mina planejada na floresta amaznica.
medida que os preos do potssio triplicaram no ano ado e os riscos geopolticos ameaam a oferta da Rssia e do Leste Europeu, o interesse cresceu no projeto Autazes da Potssio do Brasil, que poderia produzir 2,4 milhes de toneladas da matria-prima de fertilizante anualmente.
“Estou na expectativa, acompanhando bastante de perto o projeto de Autazes, porque um projeto que revoluciona a regio, cria riqueza local, para a economia nacional e uma segurana alimentar bastante importante para ns”, disse Maggi, que atuou como ministro da Agricultura de 2016 a 2019.
Um parceiro local bem conectado tambm poderia ajudar a lidar com a burocracia que atrasou a mina planejada de 2,5 bilhes de dlares, desde que o banco Forbes & Manhattan, da Bharti, com sede em Toronto, adquiriu o projeto em 2008. Um tribunal suspendeu o licenciamento da mina em 2017 por falta de consulta com uma tribo indgena local.
“Esse projeto bastante importante para o Brasil, principalmente pela sua posio geogrfica, logstica extremamente importante na questo do potssio. Ele consegue chegar nas mais distantes regies atravs da hidrovias que ns temos, a Mato Grosso, Gois, Tocantins ou Maranho, e tambm para o Sul do Brasil com cabotagem em navios”, disse.
“Estamos em discusses com muitas partes, mas estamos declinando mais comentrios”, disse Bharti Reuters.
Maggi disse que sua empresa est interessada no projeto porque seu brao de navegao fluvial, Hermasa Navegao, est bem posicionado para transportar fertilizantes para Estados agrcolas com o chamado frete de retorno de colheitas.
O Brasil depende da importao para 95% de seu consumo de potssio e um dos principais clientes de fornecedores como Canad, Rssia e Belarus, principais produtores mundiais. No ano ado, o Brasil importou cerca de 10 milhes de toneladas.
O mercado global est atualmente com falta de potssio devido a questes geopolticas, especialmente sanes Belarus. Mas analistas dizem que se as tenses diminurem na Europa Oriental e a Rssia puder evitar sanes relacionadas Ucrnia, haver muito potssio para o mundo.
O presidente Jair Bolsonaro chega a Moscou hoje (15) para uma visita que tem a questo dos suprimentos de potssio na agenda, segundo autoridades brasileiras.
Autazes, localizada a 120 quilmetros a sudeste de Manaus, est projetada para produzir at 2,4 milhes de toneladas por ano quando for construda. Mas isso levaria pelo menos trs anos aps a obteno das licenas, disse o presidente da Potssio do Brasil, Adriano Espeschit. A empresa tambm pretende desenvolver uma mina rio abaixo em Itapiranga, que acrescentaria mais 2 milhes de toneladas por ano de capacidade de potssio, disse ele.
Antes mesmo de consultar os indgenas Mura por ordem de um tribunal federal, a Forbes & Manhattan avanou em 2020 e assinou um acordo com a CITIC Construction, empresa chinesa sediada em Belo Horizonte, para construir a mina ao preo de 1,9 bilho de dlares, de acordo com um arquivamento de informao ao mercado.
A empresa disse que a mina teria um impacto ambiental insignificante, uma vez que no gera resduos. O sal separado do potssio em uma planta de processamento na superfcie e depois devolvido ao subsolo.
No entanto, a mina encontrou resistncia do povo indgena Mura, que teme poluio dos rios e que v afugentar a caa e os peixes que so seu sustento. Reclamam que a mineradora se instalou em Autazes sem perguntar. Bolsonaro, que enfraqueceu a fiscalizao ambiental e esvaziou a agncia de assuntos indgenas Funai desde que assumiu o cargo em 2019, apontou a mina de Autazes como exemplo de como os direitos indgenas impedem o desenvolvimento do pas.
Ainda assim, o Ipaam, agncia ambiental da Amaznia, disse que no pode emitir licenas para a mina continuar at que o tribunal determine que a comunidade indgena tenha sido consultada.
Os promotores que recomendaram pela primeira vez em 2016 que a licena da mina fosse cancelada at que a tribo Mura fosse consultada disseram que as exploraes de potssio esto acontecendo h anos sem o seu consentimento, uma violao da Constituio nacional.
Espeschit, da Potssio do Brasil, disse que os Mura iniciaram assembleias para discutir o projeto, mas fontes com conhecimento do assunto disseram que as consultas ainda esto em estgio preliminar e ainda precisam lidar com o impacto social que uma grande mina pode ter em uma pequena cidade como Autazes, como prostituio, doenas e outros problemas sociais.
Autoridades locais e no indgenas apoiam o projeto porque trar investimentos e empregos para a regio. Os Mura veem as coisas de forma diferente. “Para ns a terra sagrada, as florestas e os rios tambm. No queremos correr o risco de que nada acontea”, disse o chefe do Mura, Fabio Gama, em vdeo nas redes sociais. “Este no um bom negcio para o nosso povo.”