Na ltima quinta-feira, 16, participei do lanamento do livro “Adeus ao Vrus”, escrito pelos jornalistas Martha Baptista e Sergio de Oliveira, patrocinado pelo Fundo Emergencial da Sade Animal em Mato Grosso – FESA-MT. O livro trata da luta pela erradicao da febre aftosa no rebanho bovino de Mato Grosso desde o fim da dcada de 1970 at hoje. Nesses quase 50 anos a pecuria estadual deu um salto absolutamente histrico e alcanou nveis altssimos de qualidade, produtividade e eficincia. E entrou no mapa econmico mundial.
Agora vamos ao ttulo deste artigo. Todo esse programa de combate e erradicao da febre aftosa, era um forte impedimento para o mercado internacional da carne bovina produzida no estado. A luta imensa e longa foi desenvolvida por jovens tcnicos ao longo desse tempo. Hoje todos eles esto com os cabelos brancos. Tcnicos e tcnicas. A maioria j esto com 70, 80 anos e at mais. No lanamento do livro, no auditrio da Federao da Agricultura, naveguei no mar de lembranas junto com aquelas cabecinhas brancas. A partir de 1976 estive ao lado desse movimento de combate aftosa. Em alguns estive dentro da luta.
Alm de ver tantos amigos desses anos, alguns caminhando devagar, outros bastante cansados, no pude deixar de refletir como a vida no setor pblico ingrata. Aposenta e joga fora gente de extraordinria qualidade que deu a sua vida por causas do bem pblico. Em todos os setores. Conheci e tambm viajei muito por aquele Mato Grosso quase sem estradas. E os carros? Velhos jipes, fuscas e caminhonetes antigas com as C-14, C-10 ou F-1000 e Toyota Bandeirante.Conforte? Zero!
Era puro idealismo. Salrios muito defasados naquele tempo. Ao contrrio de hoje. tima remunerao, carros de luxo. Estradas asfaltadas. Hotis com ar condicionado. Cidades bem estruturadas. Naquele tempo, nada disso existia. A pergunta : o que motivava aqueles tcnicos e por o p a vida na estrada acreditando nos projetos daquela poca? Era puro idealismo mesmo. Muita fome, muita sede na falta de qualquer apoio nas estradas naquele Mato Grosso de 40, 50 anos atrs. Quem j viajou num jipe em estradas sem asfalto, sabe o que cavalgar num burro brabo.
Quem eram eles? Eram jovens veterinrios, engenheiros, economistas, es, simples funcionrios pblicos, homens e mulheres ousadas, formados nas universidades daquele tempo. Aqui preciso registrar. As universidades brasileiras formavam tcnicos com profundo comprometimento nacionalista. Eram universidades nacionalistas na sua essncia. O sonho de ento era preparar os tcnicos que iriam construir o Brasil do futuro. A crena no futuro era indiscutvel para aquelas tcnicos. Deram a sua vida pelo projeto em que acreditavam. Como viajar no pantanal de 1970? Sem estradas. S compromisso nacionalista e a tica da funo. E o Norto? S lama e poeira nas poucas estradas. O Araguaia era um mundo que novo que se abria. O Sul do estado era mundo de estradas de areia e de garimpos.
Hoje as grandes fazendas. A moderna agropecuria integrada. Mercados internacionais. Pecuria de alta qualidade sanitria e tcnica.
Nada disso existiria hoje sem esses esquecidos brasileiros de cabecinha branca que arregaaram as mangas da camisa e da alma e desbravaram o territrio e a alma desse estado to proftico em relao ao futuro.
Nenhuma autoridade do governo esteve no lanamento do livro pra conhecer os heris de ontem e conhecer a sua luta. . No importa. Eles j lidaram com tanta gente da poltica que veio, ou e tambm ficou esquecida no tempo. Confesso que me emocionei muito ao ver o velho amigo Adair. Cabelinhos brancos, bengala e olhos distantes. Nele homenageio todas as cabecinhas brancas que vi naquele dia.
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