A diversidade e a austeridade (rigidez) esto em cada indivduo. O entendimento da diversidade depende da compreenso da vivncia de alteridade em si e no outro, pois cada ser tem algo que reconhece e que estranha em si mesmo, como tambm no mundo. Por outro lado, existe em todo ser um movimento de resistncia ao que no espelha a prpria identidade, aos prprios julgamentos de valores e preferncias.
O reconhecimento sobre a diversidade em si e no outro como algo que faz parte da vida depende de ensinamentos familiares que identifiquem a ambivalncia que existe em cada criana. Essa atividade precisa ser trabalhada no primeiro ncleo familiar, na cultura escolar, empresarial, miditica e nos demais grupos sociais.
importante assinalar que todo grupo, seguindo o movimento da ambivalncia humana limita a percepo da realidade e, portanto, da diversidade, porque se organiza por ideais e iluses, o que aumenta a segurana dos indivduos uma vez que estes aceitam a realizao dos desejos, diferentemente da realidade que pode contrari-lo.
A ambivalncia pode ser percebida na contradio vivida por desejar algo e ao mesmo tempo, no o querer por medo; quando se sente o amor e o dio a si, ao outro, ou a uma tarefa; no impulso de desejar se expressar em uma identidade, mas ao mesmo tempo perceber que esta identidade lhe oprime em alguns aspectos, lhe impe exigncias pesadas; na coragem de se expressar e, ao mesmo tempo perceber sua vulnerabilidade diante do olhar do outro, na busca de ganhos e no encontro de perdas (quando se escolhe algo, sempre se perde outras coisas).
Esse autoconhecimento precisa ser ensinado na famlia por meio de relacionamentos que demonstrem amor pela existncia da criana, isto , que no a coloquem em xeque quando surgem os conflitos de interesses e se faz necessria a apresentao dos limites sociais para que haja respeito e dilogo no trato social. Em geral, os limites so expressos com raiva criana porque os adultos esto sem pacincia e possuem uma viso idealizada de como a criana deveria se comportar. A idealizao um modo de pensar que romantiza algo e nega a diversidade. O problema quando esta raiva direcionada com classificaes identidade da criana, pois a leva a acreditar que aquilo que o outro lhe nomeia.
A autonomia, ou a capacidade de se ar sozinho com autoconfiana, se desenvolve por meio de duas experincias: a primeira a de estar fundido com algum que se necessita e se ama e; a segunda a vivncia de estar separado do amado, mas identificando que este lhe reconhece. Nesta relao no h o medo de ser abandonado. Quando a criana pequena sente segurana no amor materno, ela alcana a autoconfiana. O amor uma relao particular de reconhecimento recproco que traz experincias de estar completamente satisfeito, junto com a desiluso que a separao entre os seres impe. Portanto, para amadurecer, uma pessoa precisa entender que nas relaes sociais haver desiluso mtua e nas relaes amorosas possvel a conquista da confiana por meio do reconhecimento recproco e respeitoso entre as partes. A vivncia desta relao de amor em que h o reconhecimento do outro como pessoa independente o fundamento da autoconfiana, indispensvel a autorrealizao.
Quando uma pessoa cresce sem o entendimento da complexidade de conflitos oriundos das presses da ambivalncia de sua vida interior e da dos demais, ela ter dificuldade de encontrar sua potncia, ou segurana para se expressar com respeito aos outros e aprender com eles que lhe so diferentes. Sua vulnerabilidade poder ser percebida como fraqueza e aparecer na vida adulta em termos de rigidez, mau humor, comportamentos manipulativos, ivos e desrespeitosos como o deboche e a ironia. A rigidez ou a austeridade presente em grande parcela da populao est presa a uma racionalidade linear, natural do humano quando anseia que desejos e iluses sejam atendidas e que, neste momento, s reconhece a semelhana do padro vigente em seu interior. Esta racionalidade produz uma disputa de relaes de poder, em que as pessoas devem ser ideais, iguais ou so desclassificadas na diferena. Esse comportamento expressa uma viso subjetiva infantil, pois no se reconhece a diferena como potencialidade e, quando ela aparece, provoca medo e comportamentos ivos ou agressivos.
importante lembrar que quando uma pessoa est emocionalmente tomada, ela no consegue raciocinar e controlar impulsos. Isso faz parte. Este um momento de expresso de vulnerabilidade e resistncia a algum padro em que ela no se encaixa e que no conseguiu identificar a possibilidade de agir de outra maneira. Mas depois, se houver a oportunidade e o desejo de reparao, pode-se repensar e buscar uma forma de reparar os vnculos e se posicionar com outro comportamento que demonstre sua responsabilidade neste grupo social e no que fazem em comum. Tudo comea na forma como se percebe, valoriza e se aprende a viver no mundo.